A ausência actual de dados fiáveis permite apenas expôr uma descrição conjectural da evolução urbanística de Balsa, combinando a história regional com a cronologia dos vestígios estudados, os dados sócio-políticos extraídos da epigrafia, as características urbanas reveladas pela topografia e o paralelismo com cidades mais bem conhecidas.
67 - 31 a. C.
Desconhece-se se o morro do porto já seria ocupado por um povoado turdetano, dependente do Cerro do Cavaco. As condições portuárias e defensivas apontam nesse sentido. A emissão de moedas balsenses na época da "monarquia naval" pompeiana, iniciada após a Guerra dos Piratas de 67 a. C., mostra que o sítio já tinha então sido escolhido pelos romanos, como lugar central dos balsenses.Poderá ter mantido nessa altura uma guarnição romana, enquanto porto estratégico de uma força auxiliar aliada, detentora de poderio naval. Poderá também ter sido um sítio de assentamento de ex-piratas submetidos por Pompeu, tal como se sabe ter acontecido no Mediterrâneo Oriental.
Os vestígios de um fosso, obliterado posteriormente pela plataforma do fórum, indiciam a existência inicial, ou de um fortim militar (castellum), ou de uma acrópole indígena, separada do povoado. As dragagens efectuadas em frente do local parecem ter revelado muros perpendiculares à costa, compatíveis com um porto de canal resguardado por molhes.
31 a. C. a finais do séc. I d. C
A partir de Cláudio e da anexação da Mauritânia em 42 d. C., o crescimento da actividade marítima e o padrão de monumentalização da Época, após o grande sismo então ocorrido, devem ter acelerado o desenvolvimento das estruturas portuárias comerciais e a romanização das estruturas urbanas pré-existentes.
Fim séc. I d. C. e séc. II
O maior crescimento urbano ter-se-á iniciado no reinado de Domiciano (81 a 96 d. C.), como consequência da concessão do direito latino. Será então que a cidade adquire a sua lei municipal e se procede à criação de toda uma cidade nova, traçada em moldes plenamente romanos. Esta deveria congregar a nova comunidade latina, justapondo-a à antiga cidade indígena (peregrina, isto é, não romana). Será um exemplo de dipolis, ou seja, uma cidade dupla formada pela união de duas comunidades.
A grande influência estrangeira notada em Balsa (nomeadamente norte-africana, mas também grega) poderá dever-se, em grande parte, aos “colonos” imigrados nesta conjuntura para usufruírem do direito latino em Balsa. A lei municipal terá regido a divisão cadastral da terra, cujos vestígios são numerosos.
A municipalização latina seria assim levada a cabo segundo moldes coloniais, previamente utilizados na Gália e, posteriormente, em África. Os elementos edificados já identificados devem proceder desta Época, com provável excepção do circo Oriental. O fórum primitivo associa-se à epigrafia cívica conhecida e o novo fórum à única referência epigráfica ao culto imperial. É provável que o primeiro tenha continuado como centro cívico da civitas enquanto que o segundo terá servido de sede às manifestações desse culto, igualmente associado ao teatro, de modo semelhante ao que parece ter sucedido em Italica com o chamado Traianeum.
Datará desta época o sistema de abastecimento urbano de água, com uma represa no local da actual praça da Luz de Tavira. Daqui partiria um aqueduto, cujas marcas topográficas indiciam ter-se dividido em três ou cinco ramais, para os fóruns velho e novo, para as termas e para as duas fábricas de salga. A nascente identifica-se uma plataforma elevada, terminada num paredão semicircular, onde pode ter existido um templo de modelo africano, como os de Thugga (na Tunísia actual), dedicado a Saturno ou a Caelestis.
O lugar de achamento das lápides de doação do pódio do circo é compatível com a sua localização sobre a ilha-barreira então existente.
Séc. IV em dianteO abandono da fábrica de salgas da Torre d'Aires (e de uma casa próxima, transformada em concheiro/ vazadouro) na primeira metade do séc. III e as colunas e capitéis achados tombados permitem estabelecer um paralelo com Baelo, sugerindo que Balsa terá também sofrido com os grandes sismos ocorridos nesta época. É provável que os edifícios monumentais não voltassem a ser reconstruídos e que o porto tenha sofrido graves destruições, assim como o provável circo litoral.
Só na 2ª metade do séc. III se reactiva a fábrica de salgas. Nesta altura é já pouco provável que os curiais (notáveis) de Balsa ainda residissem no centro urbano. Este deve ter permanecido como centro fiscal e cívico e o hipódromo do Arroio poderá ser deste período.
O maior desenvolvimento da indústria de conservas e associadas decorrerá nesta fase, multiplicando-se as cetárias por toda a orla ribeirinha, inclusive sobre antigas áreas urbanizadas e portuárias desactivadas.
No séc. IV Balsa deverá ter acompanhado a ruína observada em Gades e Baelo, permanecendo provavelmente apenas como sede de circunscrição fiscal do seu amplo território. A actividade de navegação de longo curso devia então já concentrar-se em Ossonoba. Durante o Baixo Império, ou posteriormente, formou-se a necrópole das Antas, sobre zonas previamente urbanizadas. Pode corresponder a uma fase de renucleação do habitat, pós-urbana, cujos centros mais prováveis seriam as zonas dos antigos fóruns.
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