Thursday, September 07, 2006

O Conhecimento do urbanismo de Balsa

Balsa pertence a um tipo de cidade "arrasada", que está longe de ser invulgar.

A acu­mu­la­ção de vestígios e indícios é notável na sua área arqueológica, apesar das des­truições re­cen­tes, da ausência de intervenções ar­queológicas sis­temáticas e da ine­xis­tência de mo­numentos ur­banos imediatamente reco­nhe­cí­veis.

Em Balsa, tal como noutros locais semelhantes, uma abordagem apropriada permite um grande re­tor­no de conhecimentos, a partir de um trabalho sistemático de análise geo-topográfica e de uma pers­­pec­tiva his­tó­ri­ca que integre toda a in­for­ma­ção ter­ri­torial, antiga e moderna, imprecisa ou ri­go­rosa, so­bre­vi­ven­te ou já desaparecida.

Pode-se assim afirmar hoje, que o desconhecimento ge­neralizado do urbanismo de Balsa, mesmo entre es­pecialistas, decorre fundamentalmente de nunca ter sido con­ve­nien­­te­mente estudado.

O tema de Balsa tornou-se especialmente re­le­van­­­te nos últimos anos, por se ter transformado tam­­­bém nu­ma questão imobiliária. Grande parte da antiga ci­dade foi já destruída por trabalhos agrí­­­colas e ur­banizações, e o que resta está em pe­­­­ri­go de ter o mes­mo destino devido aos apetites que a sua si­tua­ção pri­vilegiada desperta, embora se encontre em zona arqueológica classificada e no Parque Natural da Ria Formosa.

O manancial de informação apresentado poderá as­sim contrapor-se à ignorância e à cumplicidade dos in­teresses que prefeririam que Balsa per­ma­ne­­­ces­se perdida e des­co­nhe­cida.

Neste sentido, os traços e achados agora di­vul­ga­dos des­montam lapi­dar­men­te as rei­te­ra­das ten­ta­ti­vas de “des­va­lo­ri­zação”, “con­­­­fu­são” e “re­la­ti­vi­za­­ção” do sí­­tio ar­queo­­ló­gi­co de Balsa, tanto mais que, ape­sar das des­­tru­i­ções, per­ma­ne­cem ainda im­­por­tan­tes zo­nas por ex­plorar, vir­tual­mente in­tac­tas.


A base que fundamenta o nosso trabalho con­sis­te, es­sen­cial­mente, num estudo de geo­grafia his­tó­ri­ca que de­corre irregularmente, há já al­guns anos, so­bre a to­­pografia urbana e o território da an­ti­ga civ­itas bal­se­nse.

Pretende-se elucidar aspectos téc­ni­cos per­­­ti­nen­tes do urbanismo balsense e acom­pa­nha-se de um con­jun­to de ma­pas e res­­pectivos resumos ex­traí­dos do re­­fe­ri­do es­tu­do. Eles ilustram os ele­men­tos mais im­por­­tan­tes da restituição to­po­grá­fi­ca da forma urbana e da sua interpretação.

Os resultados desta nossa reconstituição de Bal­sa são con­­tra­di­tó­rios:

Por um lado muito limitados, relativamente ao po­tencial e às dimensões do lugar. Não se po­dem comparar com os resultados alcançados em lu­gares mais civilizados, onde as des­trui­ções fo­ram impedidas e os sítios das antigas ci­dades sub­­metidos a explorações ar­queo­ló­gi­cas ri­go­ro­sas e mais ou menos sistemáticas.

Em Balsa, há grandes áreas que permanecem in­de­terminadas ou obscuras e numerosos ves­tí­gios têm tido uma interpretação impossível ou to­tal­men­te conjectural. Falta rigor e de­ta­lhe e o re­sul­tado é frequentemente uma visão es­fumada e distante de uma planta urbana cu­jos pormenores nos escapam.

Por outro lado, os resultados são ex­tra­or­di­na­ria­men­te informativos, permitindo identificar nu­me­rosas estruturas e reconstituir um quadro con­sis­tente da forma urbana.

Balsa ganhou conteúdo e os numerosos ves­tí­gios e achados pontuais e dispersos são já en­qua­­drá­veis na ordem urbanística prevalente, que se tor­nou compreensível, permitindo a ela­­­­bo­ra­ção de uma primeira planta de síntese da forma urbana.

Os resultados permitem ainda desenvolver hi­pó­te­ses de faseamento urbano, compatíveis com diversas ou­tras ci­da­des romanas e que articulam a his­tó­ria política e geo­política conhecidas com os ele­mentos ter­ri­to­riais identificados ou pro­pos­tos.

Sem ousar esperar milagres arqueológicos, dado o re­gisto de inércia e destruição dos últimos cem anos, será talvez, porém possível que o futuro nos re­­­vele ainda novos mananciais de dados positivos so­­­bre Bal­sa.

Com esses novos dados e com o ama­du­re­ci­men­to das téc­­ni­­­cas analíticas e do corpo teó­ri­co in­ter­pre­­ta­ti­vo, o co­­nhecimento de Balsa po­de­rá vir a ter ain­da de­­sen­vol­­vimentos ines­pe­ra­dos.

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