Balsa pertence a um tipo de cidade "arrasada", que está longe de ser invulgar.
A acumulação de vestígios e indícios é notável na sua área arqueológica, apesar das destruições recentes, da ausência de intervenções arqueológicas sistemáticas e da inexistência de monumentos urbanos imediatamente reconhecíveis.
Em Balsa, tal como noutros locais semelhantes, uma abordagem apropriada permite um grande retorno de conhecimentos, a partir de um trabalho sistemático de análise geo-topográfica e de uma perspectiva histórica que integre toda a informação territorial, antiga e moderna, imprecisa ou rigorosa, sobrevivente ou já desaparecida.
Pode-se assim afirmar hoje, que o desconhecimento generalizado do urbanismo de Balsa, mesmo entre especialistas, decorre fundamentalmente de nunca ter sido convenientemente estudado.
O tema de Balsa tornou-se especialmente relevante nos últimos anos, por se ter transformado também numa questão imobiliária. Grande parte da antiga cidade foi já destruída por trabalhos agrícolas e urbanizações, e o que resta está em perigo de ter o mesmo destino devido aos apetites que a sua situação privilegiada desperta, embora se encontre em zona arqueológica classificada e no Parque Natural da Ria Formosa.
O manancial de informação apresentado poderá assim contrapor-se à ignorância e à cumplicidade dos interesses que prefeririam que Balsa permanecesse perdida e desconhecida.
Neste sentido, os traços e achados agora divulgados desmontam lapidarmente as reiteradas tentativas de “desvalorização”, “confusão” e “relativização” do sítio arqueológico de Balsa, tanto mais que, apesar das destruições, permanecem ainda importantes zonas por explorar, virtualmente intactas.
A base que fundamenta o nosso trabalho consiste, essencialmente, num estudo de geografia histórica que decorre irregularmente, há já alguns anos, sobre a topografia urbana e o território da antiga civitas balsense.
Pretende-se elucidar aspectos técnicos pertinentes do urbanismo balsense e acompanha-se de um conjunto de mapas e respectivos resumos extraídos do referido estudo. Eles ilustram os elementos mais importantes da restituição topográfica da forma urbana e da sua interpretação.
Os resultados desta nossa reconstituição de Balsa são contraditórios:
• Por um lado muito limitados, relativamente ao potencial e às dimensões do lugar. Não se podem comparar com os resultados alcançados em lugares mais civilizados, onde as destruições foram impedidas e os sítios das antigas cidades submetidos a explorações arqueológicas rigorosas e mais ou menos sistemáticas.
Em Balsa, há grandes áreas que permanecem indeterminadas ou obscuras e numerosos vestígios têm tido uma interpretação impossível ou totalmente conjectural. Falta rigor e detalhe e o resultado é frequentemente uma visão esfumada e distante de uma planta urbana cujos pormenores nos escapam.
• Por outro lado, os resultados são extraordinariamente informativos, permitindo identificar numerosas estruturas e reconstituir um quadro consistente da forma urbana.
Balsa ganhou conteúdo e os numerosos vestígios e achados pontuais e dispersos são já enquadráveis na ordem urbanística prevalente, que se tornou compreensível, permitindo a elaboração de uma primeira planta de síntese da forma urbana.
Os resultados permitem ainda desenvolver hipóteses de faseamento urbano, compatíveis com diversas outras cidades romanas e que articulam a história política e geopolítica conhecidas com os elementos territoriais identificados ou propostos.
Sem ousar esperar milagres arqueológicos, dado o registo de inércia e destruição dos últimos cem anos, será talvez, porém possível que o futuro nos revele ainda novos mananciais de dados positivos sobre Balsa.
Com esses novos dados e com o amadurecimento das técnicas analíticas e do corpo teórico interpretativo, o conhecimento de Balsa poderá vir a ter ainda desenvolvimentos inesperados.
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