O caso da cidade de Balsa constitui um escândalo que envergonha toda a gente, sobretudo quem tem a vantagem e a responsabilidade de saber mais sobre o local do que a esmagadora maioria.
De facto, só nos meios mais miseráveis e retrógrados do mundo mediterrâneo é ainda possível a destruição contemporânea de uma grande cidade romana bem conservada e situada numa importante zona turística.
Assistiu-se a uma total demissão da comunidade científica durante cerca de um século, que culminou com a escandalosa e pouco esclarecida desistência do Estado da compra da Quinta da Torre de Aires em 1976, deixando que um cultivador boçal arrasasse em três anos o que milénio e meio não tinha conseguido.
O artigo de António Henriques A cidade romana perdida publicado no jornal Expresso (nº 1715 de 10 de Setembro de 2005) (sobretudo as caixas "A grande comédia da burocracia cultural", "Sem controlo e sem pressa" e "A culpa é dos proprietários") não deixa margens para dúvidas sobra a extraordinária irresponsabilidade e incompetência dos serviços oficiais encarregados da protecção e investigação do local de Balsa.
Os apetites imobiliários crescentes depressa compreenderam a vantagem das hesitações oficiais e as extraordinárias benesses oferecidas pelo positivismo relativista, expediente teórico muito conveniente para ajustar a prática de certos arqueólogos aos interesses privados e autárquicos.
De facto, tudo parece apontar para um cenário a médio prazo onde, com grande pompa e circunstância, deixarão alguém, escolhido a dedo ou cavador acéfalo, escavar algum canteiro que não prejudique e notabilize os empreendimentos futuros, que serão provavelmente chamados “marina” ou “colinas de Balsa”, devidamente golfistas e "estruturantes", com um capitel nos prospectos!
Uma parte importante dos desígnios sobre o terreno de Balsa (pois é disso que se trata) baseia-se na ocultação de informação e na manutenção de um estado de ignorância e dúvida permanentes sobre onde e o que foi a velha cidade. Este blog pretende contribuir modestamente contra esta situação, divulgando conhecimentos e notícias diversas sobre Balsa, tendo como base os consideráveis recursos de conhecimento acumulados pelo Campo Arqueológico de Tavira durante os últimos anos.
1 comment:
Li recentemente o artigo que apareceu no Expresso e fiquei estupefacto pelo facto de um núcleo urbano da época romana destas dimensões não ter tido ainda uma atenção por parte do Estado, com vista à sua preservação. Com a enchente de estrangeiros que o algarve recebe, certamente todo o investimento seria rentabilizado. Agora, darem pérolas a porcos (os tais agricultores boçais)só se quando há muito laxismo e desinteresse. Que Balsa seja, apesar de tudo preservada, é o meu desejo!
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