A ausência actual de dados fiáveis permite apenas expôr uma descrição conjectural da evolução urbanística de Balsa, combinando a história regional com a cronologia dos vestígios estudados, os dados sócio-políticos extraídos da epigrafia, as características urbanas reveladas pela topografia e o paralelismo com cidades mais bem conhecidas.
67 - 31 a. C.

Poderá ter mantido nessa altura uma guarnição romana, enquanto porto estratégico de uma força auxiliar aliada, detentora de poderio naval. Poderá também ter sido um sítio de assentamento de ex-piratas submetidos por Pompeu, tal como se sabe ter acontecido no Mediterrâneo Oriental.
Os vestígios de um fosso, obliterado posteriormente pela plataforma do fórum, indiciam a existência inicial, ou de um fortim militar (castellum), ou de uma acrópole indígena, separada do povoado. As dragagens efectuadas em frente do local parecem ter revelado muros perpendiculares à costa, compatíveis com um porto de canal resguardado por molhes.
31 a. C. a finais do séc. I d. C

A partir de Cláudio e da anexação da Mauritânia em 42 d. C., o crescimento da actividade marítima e o padrão de monumentalização da Época, após o grande sismo então ocorrido, devem ter acelerado o desenvolvimento das estruturas portuárias comerciais e a romanização das estruturas urbanas pré-existentes.
Fim séc. I d. C. e séc. IIO maior crescimento urbano ter-se-á iniciado no reinado de Domiciano (81 a 96 d. C.), como consequência da concessão do direito latino. Será então que a cidade adquire a sua lei municipal e se procede à criação de toda uma cidade nova, traçada em moldes plenamente romanos. Esta deveria congregar a nova comunidade latina, justapondo-a à antiga cidade indígena (peregrina, isto é, não romana). Será um exemplo de dipolis, ou seja, uma cidade dupla formada pela união de duas comunidades.
A grande influência estrangeira notada em Balsa (nomeadamente norte-africana, mas também grega) poderá dever-se, em grande parte, aos “colonos” imigrados nesta conjuntura para usufruírem do direito latino em Balsa. A lei municipal terá regido a divisão cadastral da terra, cujos vestígios são numerosos.
A municipalização latina seria assim levada a cabo segundo moldes coloniais, previamente utilizados na Gália e, posteriormente, em África. Os elementos edificados já identificados devem proceder desta Época, com provável excepção do circo Oriental. O fórum primitivo associa-se à epigrafia cívica conhecida e o novo fórum à única referência epigráfica ao culto imperial. É provável que o primeiro tenha continuado como centro cívico da civitas enquanto que o segundo terá servido de sede às manifestações desse culto, igualmente associado ao teatro, de modo semelhante ao que parece ter sucedido em Italica com o chamado Traianeum.
Datará desta época o sistema de abastecimento urbano de água, com uma represa no local da actual praça da Luz de Tavira. Daqui partiria um aqueduto, cujas marcas topográficas indiciam ter-se dividido em três ou cinco ramais, para os fóruns velho e novo, para as termas e para as duas fábricas de salga. A nascente identifica-se uma plataforma elevada, terminada num paredão semicircular, onde pode ter existido um templo de modelo africano, como os de Thugga (na Tunísia actual), dedicado a Saturno ou a Caelestis.
O lugar de achamento das lápides de doação do pódio do circo é compatível com a sua localização sobre a ilha-barreira então existente.
Séc. IV em diante
Só na 2ª metade do séc. III se reactiva a fábrica de salgas. Nesta altura é já pouco provável que os curiais (notáveis) de Balsa ainda residissem no centro urbano. Este deve ter permanecido como centro fiscal e cívico e o hipódromo do Arroio poderá ser deste período.
O maior desenvolvimento da indústria de conservas e associadas decorrerá nesta fase, multiplicando-se as cetárias por toda a orla ribeirinha, inclusive sobre antigas áreas urbanizadas e portuárias desactivadas.
No séc. IV Balsa deverá ter acompanhado a ruína observada em Gades e Baelo, permanecendo provavelmente apenas como sede de circunscrição fiscal do seu amplo território. A actividade de navegação de longo curso devia então já concentrar-se em Ossonoba. Durante o Baixo Império, ou posteriormente, formou-se a necrópole das Antas, sobre zonas previamente urbanizadas. Pode corresponder a uma fase de renucleação do habitat, pós-urbana, cujos centros mais prováveis seriam as zonas dos antigos fóruns.