Sunday, October 03, 2010

Uma síntese sobre BALSA

Balsa foi uma cidade romana portuária da Hispânia, no Convento Pacense da província da Lusitânia. A localização actual corresponde às quintas de Torre d’Aires, Antas e Arroio, freguesia da Luz de Tavira, concelho de Tavira, distrito de Faro, no sul de Portugal.
 
Balsa é mencionado por Pompónio Mela(DC III 1, 7), Plínio-o-Velho (HN IV 35, 116), Ptolomeu (GH: II 5, 2) e Marciano de Heracleia (PME: II, 13).
 
Cunha moeda própria: asses de bronze e os seus divisores em chumbo (semis, quadrantes, triantes e sextantes) em meados do séc. 1º a.n.e., em alfabeto latino, com motivos marinhos (atuns, golfinhos e  varios tipos de barcos). O nome BALSA registado nestas moedas é a atestação mais antiga do topónimo.
 
Segundo Mela (DC III 1, 7) Balsa situava-se no Ager Cúneo, uma região geográfica correspondente ao Algarve Central e Oriental modernos.
 
É um dos ópidos estipendiários da Lusitânia, sede dos balsenses (Plínio: IV 35, 118), povo que pertencia ao grupo étnico dos Turdetanos (Ptolomeu: II 5, 2).
 
Etapa do Itinerário de Antonino entre [B]Esuri[s] e Ossonoba (IAA: 426,1). Referida como civitas no Ravenate, entre Besurin a e Stacio Sacra (RAC: IV 43, 30).
 
Era considerada por Marciano de Heracleia a polis mais a sul da Lusitânia (M. H.: II, 14).
A identificação do sítio é atestada pela epigrafia encontrada no local, em que Balsensium surge três vezes, a qualificar pessoas (CIL II, 5161 CIL II, 5164) e a comunidade política (IRCP 75).
 
As inscrições epigráficas revelam que Balsa foi um Município de Direito Latino (Ius Latii Municipium) durante o séc. II n.e., muito provavelmente promovido por Domiciano (81-96 n.e.).
 
Todos os aspectos principais da romanização provincial estão atestados localmente: uma res publica com uma ordo decuriónica (IRCP 75); proeminência da gens Manlia (CIL II, 5161 CIL II, 5162); magistrados (duúnviro pertencente à tribo QUIRINA: CIL II, 5162); séxviros (CIL II, 13); escravos públicos (balsensium dispensator: CIL II, 5164); evergetismo (oferta de espectáculo de naumáquia e pugilato: CIL II, 13); construção colectiva de um circo (CIL II, 5165 CIL II, 5166) e de outros monumentos não identificados (CIL II, 5167); culto imperial (IRCP 90); e uma larga proporção de nomes gregos e norte-africanos.
Um cidadão romano de Neapolis (Nabeul, Tunisia) com uma filha residente no território de Pax Iulia (Beja, Portugal) declara-se um íncola de Balsa (CIL II, 105)!
 
O grau de romanização de Balsa pode também inferir-se dos nomes pessoais conhecidos (39 homens e 16 mulheres): 58% têm tria nomina ou são mulheres com dua nomina latinos. 71% têm um nomen romano e os restantes 27% um simples cognomen, sendo estes na sua maioria nomes gregos. Os nomes nativos em todas as suas formas (célticos ou turdetanos) são uma pequena minoria (9%).
 
Do séc. III n.e. sobrevive um raro monumento funerário escrito em grego (CIL II, 5171), considerado por alguns como sendo cristão, e há notícia de um tesouro de moedas de Cláudio Gótico (268-270 n.e.) descoberto no esgoto de um balneário.
 
As sigillatas e os vidros importados formam uma série contínua entre as cerâmicas Augusteias tardias (Hispânicas precoces) e as Africanas D, Gálicas e Foceenses tardias, com os últimos objectos datados do sec. VII. O pico esmagador de volume corresponde às sigillatas sudgálicas do séc. I n.e. mas o estudo dos materiais é muito limitado.
 
A indústria de preparados piscícolas está bem documentada na cidade e nos arredores, assim como as fábricas de ânforas. Conhecem-se seis produtores de garum em Balsa através das suas marcas: AEMHEL, OLYNT, LEVGEN, IVNIORVM, IMETVS F e DASIMVSTELI.
 
Vários testemunhos anteriores a 1978 descrevem a existência de ruínas romanas muito extensas e densas no local.
 
Desde então o terreno arqueológico tem sido profundamente destruído por trabalhos agrícolas e pela construção de moradias suburbanas e de infra-estruturas.
 
A exploração arqueológica é muito limitada e a maior parte foi realizada no sec. XIX, com critérios pré-científicos. Por outro lado, conhecem-se sessenta sítios com achados romanos dentro do perímetro arqueológico de Balsa.
 
A arqueo-topografia revelou estruturas urbanas extensas e importantes (ver figura 4): um teatro; um cais e um porto interior; um hipódromo; uma larga área de quarteirões hipodâmicos; e vários outros.
 
O centro urbano tinha um tamanho extraordinário para uma cidade municipal sem estatuto de capital: os limites urbanos estendiam-se por uma área não inferior a 47 hectares e a área peri-urbana ocupava pelo menos 108 hectares. 
O plano revela uma cidade dupla, ou então desenvolvimentos em grande escala em dois momentos da história urbana.
 
O território da civitas correspondia ao moderno Algarve Oriental, fronteiriço da província da Bética e com uma área aproximada de 1 520 km2, na maioria constituído por serranias, então ricas em florestas e minerais.
 
Vestígios significativos de centuriações agrárias romanas podem ainda ser reconhecidos em levantamentos topográficos modernos, limitados às planícies litorais onde os olivais, vinhas e pomares de sequeiro sempre se adaptaram melhor.
A costa era formada por lagunas e estuários, cujos recursos agro-marítimos foram intensamente explorados na época romana.
 
As colecções arqueológicas de Balsa estão espalhadas por diversos museus e por colecções privadas, destacando-se a do Museu Nacional de Arqueologia (Lisboa).
Os objectos melhor preservados pertencem a espólios funerários: boas colecções de terra sigillata, vidros, lucernas e objectos pessoais, em que se destaca um estojo de cirurgião; um busto feminino da época antonina; dezassete lápides epigráficas cívicas e funerárias; estatuetas; moedas; elementos arquitectónicos, etc. 

This information about the Roman town of Balsa, plus an extensive bibliography, may be seen in English, here.

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