Critique and plan for the geophysical survey of the Roman town of Balsa (Lusitania).
Tópicos de uma palestra sobre Balsa realizada em 2008.
Tópicos de uma palestra sobre Balsa realizada em 2008.
Introdução
A prospecção geofísica da área de Balsa é já um projecto antigo.
A evolução das técnicas de prospecção torna hoje este processo expedito, rigoroso e relativamente económico. O seu carácter não invasivo constitui uma importante mais-valia relativamente às técnicas de sondagem tradicionais, sobretudo em zonas com uma alta densidade de ocupação antiga, como é o caso das cidades romanas.
Para além da sua aplicação na determinação de áreas e estruturas edificadas do espaço urbano é de referir também a sua aplicação a zonas ribeirinhas, hoje inundadas ou, pelo contrário, colmatadas. Embora se conheça em termos muito gerais o processo de evolução do sistema dunar e das ilhas-barreira, a prospecção geofísica é uma técnica insubstituível para tentar reconstituir a barra, o canal e a ilha-barreira antigas e tentar localizar as estruturas que, sem dúvida, existiram nesta última e sob as dunas da margem. Isso para além do bónus de eventuais descobertas do âmbito da arqueologia naval.
A realização de uma prospecção deste tipo na zona de Balsa com objectivos de conhecimento científico e patrimonial só pode ter assim o nosso total apoio.
Trata-se porém de uma iniciativa que, pela sua própria importância, está longe de se reduzir a uma mera operação técnica e o modo da sua planificação poderá ter grandes consequências para o futuro de Balsa.
O projecto de prospecção da CMT
A Câmara de Tavira apresentou em 2007, em grandes parangonas, um projecto de prospecção geofísica da Quinta da Torre d'Aires. Tive oportunidade na altura de avaliar essa intenção, suspeita de perversidade na sua forma e conteúdo.
De facto, não era clara a intenção prévia em limitar a prospecção à quinta da Torre d'Aires, e, sobretudo, em querer proceder à prospecção integral dessa propriedade.
A DPRU não apresentou então nenhuma intenção de prospectar integralmente o espaço arqueológico de Balsa nem apresentou nenhuma justificação científica para proceder à prospecção da totalidade da quinta da Torre d'Aires.
Na realidade estou convicto que essas justificações ou nunca existiram ou então são falsas.
A limitação de Balsa ou a sua identificação com a Quinta da Torre d'Aires constitui um erro arreigado, que tem sido perpetuado por publicações sobre materiais da cidade.
Não se trata de um mero detalhe mas de um erro com graves consequências, pois fundamentou a exclusão das zonas do Rato, Arroio e da maior parte das Antas do perímetro classificado de Balsa, apesar da sua conhecida ocupação arqueológica (já para não falar das Pedras d'El-Rei, onde ainda recentemente foi descoberta mais uma fábrica de salgas, a 3ª registada no local).
Como se sabe, a destruição radical das ruínas enterradas da Quinta da Torre d'Aires, iniciou-se em 1978 e que continua esporadicamente ainda hoje, embora o essencial já tenha sido eliminado.
Dos cerca de 42 ha da quinta foram revolvidos talvez mais de 30, deixando apenas escarpas e bosque, zonas marginais, logradouros, caminhos e a área urbana.
Hoje em dia, é sobretudo nas Antas, Rato e Arroio, quintas parceladas há 30 anos ou mais, que se verifica um escandaloso crescimento urbanístico em plena zona arqueológica, associado a histórias "off-the-record" sobre achados e destruições.
De facto, as moradias, piscinas e a jardinagem paisagística agressiva têm sido os principais factores da destruição recente e continuada dos vestígios de Balsa. Essa destruição prossegue com grande vigor na actualidade (2010) devido ao mercado imobiliário, que transformou a zona numa área de grandes moradias, de elevado preço.
Recentemente todo o subúrbio norte da cidade foi totalmente urbanizado (Urbanização da Luz de Tavira) sem qualquer acompanhamento arqueológico sério e está em curso a construção da derivação sul da EN-125, a escassas centenas de metros da cidade romana.
Uma análise elementar sobre os prédios urbanos definidos no cadastro elaborado na década de 1980, contrapostos às casas efectivamente construídas, assim como a evolução do crescimento das áreas implantadas, constitui um exercício revelador da metástase imobiliária em acção.
Porém, na maioria desta área, sobretudo nas Antas, não há porém indícios de destruições tão profundas como na Torre d'Aires, permanecendo uma zona de eleição para prospecções não invasivas. Existem extensas zonas intactas em pousio de culturas arvenses há décadas e existem ainda pomares tradicionais, cuja plantação implicava métodos muito menos destrutivos.
Planeamento e resultados da 1ª prospecção
Apesar de sobejamente conhecedora dos limites das zonagens destruídas e remanescentes (e contra os pareceres técnicos de membros do CAT consultados sobre o assunto), a DPRU escolheu e insistiu teimosamente em duas zonas-piloto de prospecção: uma área portuária não edificada e outra numa área já totalmente subsolada, ambas porém bem próximas de outras que lhe foram assinaladas como as mais promissoras, mas que preferiu ignorar!
Nada se descobriu – como era de esperar – nas prospecções realizadas em tais lugares votados à partida ao fracasso e permanecem também desconhecidas as proporções de estultícia e má-fé que conduziram à perda de tempo e dinheiro investidos em tão triste fiasco.
Daí em diante a CMT cobriu-se, até hoje, com um véu de ocultação e silêncio públicos sobre a prospecção geofísica e demais projectos concretos relativamente a Balsa.
Zonas prioritárias de prospecção, segundo os níveis de destruição e a concentração de traços urbanos.
O fundamento técnico-científico da delimitação e hierarquização de zonas a prospectar baseia-se na sobreposição das primeiras versões (de 2004) de quatro documentos fundamentais sobre Balsa:
- Cartas de destruições agrícolas e urbanísticas
- Carta de Risco Arqueológico
- Carta de vestígios arqueológicos
- Carta de delimitação das zonas de urbanismo romano
Com base na síntese destes documentos é possível estabelecer um plano sistemático e fundamentado de prospecção geofísica, tendo em conta a identificação de seis zonas críticas:
1. Fórum e escarpa portuária.
2. Porto. Destruições à superfície mas o nível do fundo portuário pode estar intacto.
3. Zona da ilha barreira antiga ou prolongamento costeiro onde existiram vestígios.
4. Zonas em risco de destruição urbana.
5. Zonas virtualmente intactas.
6. Zonas onde há pedidos de obras e jardinagens.
Neste mapa, a tracejado mais grosso mostram-se os limites da Quinta da Torre d'Aires, sobrepostos aos limites urbanos e periferia da cidade romana.
Questões a que a prospecção deve responder
Para complementar o plano topográfico fundamentado, a operação de prospecção deveria ter objectivos técnico-científicos explícitos, no sentido de responder a questões concretas sobre o conhecimento do urbanismo de Balsa:
1. Certificação do grau da destruição perpetrada na Quinta da Torre d'Aires
2. Estado de conservação da colina da acrópole até à sua base e do seu terreiro norte
3. Verificação da hipótese da existência de um fosso a Norte, coberto por terraplanagens
4. Estabelecimento dos limites portuários, do porto exterior e interior
5. Fases do uso e do abandono do porto
6. Vestígios náuticos nas lamas sob o nível de destruição agrícola
7. Estado de conservação do traçado urbano das Antas
8. Vestígios sobreviventes da necrópole Oriental.
9. Linha de costa e sobrevivência de vestígios na área submersa entre as fozes das ribeiras da
Luz e do Arroio (litoral extensível até à Torre d'Aires a Oeste e Pedras d'El-Rei a Leste).
Relativamente ao ponto 9 deve sublinhar-se a importância da zona da ria limítrofe à cidade romana. Como se sabe, as dragagens no canal norte, junto à margem, revelaram por duas vezes materiais de construção de muros, não muito longe do local onde, também no canal, foram descobertos vestígios de estruturas e as célebres lápides referentes ao circo de Balsa.
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